Comprei um Spacewalker II usado com motor
ASP52, e antes de colocar para voar tinha que fazer uma revisão completa. Eu quando
digo completa, é completa mesmo, não podia ter dúvida sobre nada: nenhum
componente, comando ou parafuso.
A história deste aero é a seguinte: Vi o
anúncio no grupo do Whatsapp que reúne o pessoal das três pistas da região
(UAI, ASA e ARM). Me apaixonei de cara pelo aero, mas fiquei receoso de empatar
a grana naquele momento. Veja as fotos do anúncio:
A pessoa que me vendeu é um amigo que
frequenta as nossas pistas. Ele adquiriu o aero como parte de pagamento de um
negócio e não chegou a voar com ele. A pessoa que vendeu a ele disse que só
tinha feito 3 voos. Bom, começa aí, sempre vem essa história do aero só ter
três vôos. De fato, o aero todo estava bem novinho, mas o motor tinha sinais de
estar um pouco mais rodado.
Caso queira algumas dicas de como não comprar
aeromodelos com problema, sugiro este artigo: Como
comprar um usado.
Este Spacewalker é um Kit
ARF da Phoenix Model, ou
seja, toda a estrutura montada e entelada. Todo o resto da montagem fica por
conta do comprador: colar dobradiças de todas as superfícies de comando, fixar
deriva e estabilizador traseiro, fixar servos e toda a linkagem, fixar trem de
pouso, tanque, motor, bateria e receptor.
Ao examinar todo o aero verifiquei que a estrutura
estava perfeita, mas possuía muitos erros de montagem, justamente aquilo que
fica por conta do comprador. Nenhum muito grave, alguns apenas detalhes, mas
todos eles valiam a pena ser alterados.
Vamos então aos itens revisados:
Posição dos Horns
A primeira coisa que me chamou a atenção foi a
posição que os horns estavam fixados nas superfícies de comando. O próprio
manual explica a regra básica que diz que os furos dos horns devem ficar
alinhados com a dobradiça:
Veja como estavam:
Mesmo sabendo que precisaria de novos furos e
depois consertar os furos antigos, reposicionei todos os horns de todos os
comandos. Do jeito que estavam a consequência seria um esforço maior do
servo e diferença no quanto
a superfície deflete para um lado e para o outro.
Faço um parêntese aqui para mencionar o quanto
é importante proporcionar condições para que os servos façam o menor esforço
possível em qualquer comando. Desta maneira estamos preservando a vida do
servo, minimizando o consumo da bateria on-board, e aumentando a confiabilidade
do conjunto.
Linkagem do acelerador
Não entendi porque o antigo dono colocou esta
"tábua" no meio do caminho para fixar o servo do acelerador e ainda
passou o arame de comando pelo lado errado, fazendo dobras e roçando no corpo
do motor.
O manual é bem claro mostrando por onde passar
o comando e onde fixar o servo. Desmanchei tudo e fiz do modo correto.
Fixação da linkagem
A fixação dos arames nos braços dos servos ou
nos horns deve ser bem ajustada. Não podem ter folga, o que ocasiona imprecisão
dos comandos, nem pode ser muito justo o que ocasionaria esforço excessivo nos
servos. Precisa estar bem ajustado.
Troquei alguns braços de servos e horns que
estavam com os furos alargados demais. Também troquei alguns furos de posição
para ajustar
quantidade de comando.
Fixação dos servos
Muitos acham isso mero detalhe, mas se existe
uma regra para isso, vamos aplicá-la. O ilhós que vai dentro da borracha por
onde passa o parafuso de fixação do servo, tem que ficar com a parte maior para
baixo, ou seja o diâmetro maior deve ficar em contato com a madeira.
Isso é assim para que o ilhós tenha apoio na
madeira e preserve o aperto do parafuso. Se for colocado ao contrário, a
vibração faz a parte fina e cortante do ilhós penetrar na madeira e o parafuso
ficará frouxo.
A outra função – porém não menos importante -
é fazer a função de coxim, e amortecer no servo a vibração do motor.
Dobradiças
Percebi que uma dobradiça não estava bem
colada, então puxei com uma boa força cada dobradiça e metade delas descolou
com relativa facilidade. Aqui fica outro assunto polêmico. Elas estavam coladas
com CA (Cianoacrilato), eu prefiro sem sobra de dúvidas cola Epóxi. Colei
todas, tomando cuidado para não deixar excesso de cola e me certificar que
todos os comandos ficaram com movimentação bem livre.
Tanque
Impossível pegar um avião usado e não revisar
o tanque antes de voar: tubos, mangueiras, pescador.... Tudo tem que estar em
perfeita ordem e montado com precisão. O tubo do respiro estava trincado, pescadores
mal posicionados, mangueiras suspeitas, um desastre.
A melhor coisa que eu fiz foi comprar um
tanque novo. Reformei esse aí e vou deixá-lo para a bancada de amaciamento de
motores. O tanque novo vem com as instruções
de montagem. É
só seguir o que está ali que não tem como errar.
Polainas
Um raspão aqui, uma trinca ali, arruelas
faltando, mas nada grave. Depois de alguns retoques com cola Epóxi, montei da maneira que o manual ensina, com
duas arruelas de plástico que permitem que a polaina não fique totalmente
rígida. Desta maneira caso ela toque no chão, ela gira no eixo e não quebra.
Mufla
A mufla tem papel importantíssimo para o bom
funcionamento do motor. Sua perfeita vedação garantirá a correta pressurização
do tanque. Havia cola Epóxi na junção da mufla. Isso é totalmente impróprio,
pois a cola epoxi se solta com a vibração e com o calor. Abri, limpei tudo e
vedei com silicone de alta temperatura (aquele vermelho para junta de motor).
Motor
Desmontei, descarbonizei, limpei tudo e
montei. Antes de instalá-lo de volta no aero, coloquei na bancada de
amaciamento e dei partida. Tive que trocar a vela e regular
o carburador (agulha
de baixa). Prefiro mil vezes fazer isso na bancada do que no próprio aero, pois
assim tenho acesso a todas as partes do motor e não fico sujando o aero à toa.
Claro que depois de instalar o motor no aero a
primeira partida recebe uma atenção especial já que ele passa a estar sujeito
às condições normais de uso.
Fixação do Cowl
Os parafusos de fixação do cowl não tinham
qualquer proteção e já estavam danificando os furos por causa da viração.
Estes parafusos precisam ter uma arruela de metal e uma arruela
de borracha, isso faz com que esta fixação tenha um tipo de amortecimento:
Piloto
Se eu não olho, ele perderia a cabeça, e o
aero ficaria sem comando (risos). Até isso estava precariamente colado com cola
quente, um parafuso e cola Epóxi me deixaram mais tranquilo. Finalizei com um
cachecol. (Um pouco de charme não atrapalha):
Ajustes finais
Bem, antes de voar a primeira vez é necessário fazer um ajuste
geral do aero, já quase na hora de ir para a pista, como:
A junção de todos estes detalhes de antes da
revisão poderiam resultar desde um vôo irregular, até mesmo à queda do aeromodelo.
Depois da revisão, tive o prazer de voar com
um aero alinhado, estável e confiável.
O voo inaugural precisou de um pouco trimagem (o que é normal) e
logo eu já estava testando a manobrabilidade e experimentando um pouso muito
tranquilo pois o aero voa muito bem e suave.
Depois do primeiro voo o aero passou por uma rechecagem
geral. Aí sim tive a sensação de que eu trabalhei corretamente, pois estava
tudo em ordem.
A revisão acima possui alguns procedimentos
que podem ser executados
periodicamente nos
seus aeros, porque todos os componentes sofrem desgaste e fadiga, e são dignos
de passarem por revisão, afinal este tempo investido pode salvar o seu aero, e
o que todo mundo quer é se divertir e leva-los inteiros para casa.
Você já comprou algum aeromodelo
usado e precisou de uma revisão geral? Deixe seu comentário aqui embaixo!
Escrito por Marcio Barcelos
Muito boa as correções, poste um vídeo do vôo de reestreia, parabéns lindo aero!
ResponderExcluirCaracas!!! Já ouvi dizer que aeromodelista é aquele que constrói seu próprio Aero, mas todo este procedimento é digno de tal título.
ResponderExcluirParabéns colega por enriquecer meus conhecimentos.
Recomendações excelentes e precisas. Contribuiu muito para enriquecer o meu conhecimento sobre o hobby.
ResponderExcluirParabéns pela matéria.
Muito bom este post como sempre ajudando a todos do hobby.
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