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Planadorismo: o voar sem motor



            Desde nosso início no aeromodelismo estamos acostumados com um motor, geralmente no nariz do avião, propulsionando-o para cima e para baixo apenas com um acionar de stick. Mas seria este essencial ao voo? Ou há alguma forma de voar sem motor?

            O planadorismo é a arte de voar sem motor, apenas planando e aproveitando-se de eventos climáticos para ganhar altura sem a necessidade de motor. Pode parecer algo simples e elementar, porém, voar um planador com maestria é tarefa para pouquíssimos apaixonados.





            Eu, particularmente, não gostava de planadores até bons anos atrás, me apaixonei por eles exatamente quando fiz o meu primeiro voo, no motoplanador de um amigo; e inclusive este modelo encontra-se comigo até hoje. A partir daquele dia me apaixonei por esta arte, e apesar de praticá-la com pouca frequência, sempre levo meu motoplanador para a pista quando quero fazer um voo relaxante e com zero estresse.

            Apesar de um planador utilizar-se de correntes ascendentes para manter seu voo, como explicarei mais a frente, estas correntes não conseguem fazer com que ele decole na pista, pois precisamos fornecer uma energia inicial para que logo em seguida ele tenha capacidade de voar sem motor. E para isso temos algumas formas:


            - Planador rebocado: Engata-se uma linha entre um aeromodelo motorizado e o planador. Decola, ganha altura, e quando estiver em uma boa posição, desacopla esta linha.

            - Hi-start: Ancora-se um elástico firmemente ao solo com uma linha comprida após ele, tenciona-se este conjunto puxando o planador para trás; e quando achar conveniente, solta, jogando o planador rapidamente para cima até a altura máxima da linha.

            - DLG (Discus Launch glider): Este é um planador especial, com uma pequena alça para os dedos na ponta da asa. O piloto pega nessa alça com dois dedos, gira (como num arremesso de disco) e joga o planador para cima.

            - Motoplanador: É o tipo mais comum deles, basicamente um planador com um motor, que pode ser retraído completamente para dentro da fuselagem, ou ficar no nariz do aero e apenas as pás da hélice se recolherem para trás quando o motor estiver desligado.


            Um ponto importante é atentarmos para as nomenclaturas em inglês para planador:

            - “Glider”: Aeronave com capacidade de planar, descendo continuamente. Ex: ônibus espacial da NASA reentrando na atmosfera, e aviões sem motor na Segunda Guerra Mundial que foram utilizados para transportar tropas e descê-las em silêncio.

            - “Sailplane”: Por essência também é um “glider”, mas além de descer, tem a capacidade de subir acima da altura inicial de lançamento e manter-se em voo.


            Conhecendo os termos, já podemos falar sobre a parte mais técnica do assunto, pois de nada adianta rebocar um planador, se chegando lá em cima ele voar apenas poucos minutos.

            As térmicas - ar quente em ascensão - são as responsáveis por prolongar o voo e fazer com que o planador ganhe altura mesmo sem motor. Pelo solo não ser homogêneo, alguns pontos acumulam mais calor que outros, e esta bolha de calor fica presa ao solo até que algo rompa sua tensão superficial, como uma bolha de sabão na superfície da água; quando rompida, a bolha começa a subir, ganhando altura até se desenvolver completamente muitos metros acima.





            As térmicas mais fortes estão presentes nos dias mais quentes:

            De manhã, as térmicas são mais estreitas (pequeno diâmetro) e geralmente não sobem muito (6 a 120m). A vantagem é a grande quantidade de térmicas – permitindo deslocar-se de uma para outra com facilidade - e a atmosfera mais calma, refletindo em ascendentes mais calmas. O ideal é aprender neste período do dia.

            No final da tarde, as térmicas são grandes massas de ar quente vagando pelo céu, geralmente muito lisas com bordas suaves. O meio da tarde, entre meio dia e 16h, é o horário com térmicas mais fortes.

            Ao lado das ascendentes (em sentido contra o vento) estão presentes as descendentes, que são criadas quando o ar quente sobe e o ar frio desce para preencher o espaço deixado. A descendente não é necessariamente algo ruim, pois quando há uma descendente, também há uma ascendente muito próxima.

            O ideal é definir um padrão de busca, voando em “S” de frente para o vento, a área coberta aumenta bastante, aumentando também sua chance de encontrar uma térmica.


            A direção do vento e sua intensidade são ótimos indicadores de térmicas:

            - Se o vento mudou rapidamente para a direita, há grande chance de haver uma térmica atrás de você a esquerda;

            - Se a força do vento aumentar, ainda que continue soprando diretamente em seu rosto, a térmica estará diretamente atrás de você;

            - Se o vento diminuir, ou mesmo parar a pós uma brisa constante, a térmica estará a sua frente ou diretamente em cima de você;

            Resumindo, a térmica sempre estará no sentido que o vento sopra. Por isso preste muita atenção nas variações de velocidade e sentido do vento.


            A maneira mais fácil de encontrar uma térmica é observando as aves, pois muitas delas pegam “carona” para cima por meio destas, como você e seu planador.




            Ao encontrar uma térmica, tenha certeza que não é apenas uma impressão. Pois ao ganhar mais velocidade, o planador sobe pelo aumento de sustentação aerodinâmica, o que é chamado de “térmica de stick”.

            A melhor maneira visual de confirmar a térmica é observando a atitude do planador, quando está subindo, ele aumenta ligeiramente sua velocidade e abaixa um pouco o nariz. A principal sensação é a de agilidade e respostas firmes nos comandos dados.

            Gire formando um círculo de 15 a 20m de diâmetro e defina quais são os limites da ascendente, pois lembre-se que ao lado dela temos a descendente com ar turbilhonado. As térmicas deslocam-se com o vento, mas lembre-se que seu planador também segue o vento, por isso não é muito inteligente brigar com ele para que fique travado na mesma posição, pois logo sairá da térmica, então siga o vento.


            Outra maneira de conseguir corrente de ar ascendente é em encostas com mais de 30º de inclinação, pois ao chocar-se com ela, o vento torna-se praticamente vertical, levando o planador para cima. Porém, é importante saber que a sustentação se dá com o vento soprando diretamente na face da encosta, variações de mais de 20º podem causar mais turbulência que sustentação.


            Em algumas situações, ter um planador motorizado pode ser mais vantajoso, pois caso o vento pare ou as térmicas cessem, ainda é possível trazer seu aeromodelo em segurança para o local mais adequado ao pouso.


            Links relacionados:
            Categoria de competição F5J e F3K

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