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O motor morreu. E agora?



            Tenho certeza que um dos maiores pesadelos de todo piloto que voa um aeromodelo à combustão (ou à reação) é o motor apagar em voo. Dependendo do modelo de avião podemos dizer que é lenha na certa, mas será que esta situação é tão desesperadora assim? Neste artigo quero passar para vocês um pouco da minha experiência com motores à combustão.




            Antes que você me pergunte; sim, eu já lenhei algumas vezes por causa do motor, e podemos dizer que isto é relativamente normal. A primeira foi leve e com meu primeiro aeromodelo (treinador), não percebi que o motor havia morrido durante um rasante de dorso, e por causa do perfil da asa, não pude fazer muita coisa e acabei pousando no mato de dorso.

            A segunda e mais recente foi com meu YAK 54 20cc, após uma decolagem puxei uma subida vertical, e bem nesse instante o motor morreu. Por ser um aeromodelo pesado, não pude fazer muita coisa e fiz um pouso bem forçado próximo à cabeceira. O modelo lenhou consideravelmente, ainda estou pensando sobre sua possível reconstrução.

            O principal a se fazer em situações como esta é não deixar o motor morrer, pode parecer obvio, mas poucos aeromodelistas tomam o cuidado necessário com isso. Um procedimento que adotei e não abandono é: NÃO decolar antes que o motor tenha esquentado. Parece simples, mas isso já salvou meu T-27 Tucano, pois após esquentar o motor apresentava grande falta de combustível em alta rotação. Como ainda estava no chão, foi só não decolar antes de regular o motor.

            Caso o motor morra em voo, a situação já é diferente, saímos de procedimentos preventivos para procedimento corretivos; pois uma hora o aeromodelo vai tocar o solo, você querendo ou não.

            Uma coisa é clara, quando o motor de um treinador morre em voo é muito mais simples pousar do que se fosse um warbird ou jato. Devemos ter a certeza de que certos aviões só voam com motor, sem motor não mantém nem um voo nivelado. Para esses o cuidado deve ser muito maior para que o motor não apague em voo.


            Primeiro passo: faça seu aeromodelo voar. Como todos sabem, aeronaves de asa fixa voam apenas com velocidade, diferentemente dos helicópteros. Por isso, nariz para baixo sempre, mantenha um rampa descendente. A velocidade ideal seria aquela em que o avião tem a melhor razão de planeio (perder pouca altura pela distância horizontal percorrida), mas como não temos noção disso no nosso hobby, mantenha pelo menos uma descida capaz de garantir o voo controlado.


            Segundo passo: é o mais difícil e é diretamente ligado à experiência de voo. Você precisa tem uma mínima noção de até onde é possível voar com a altura (energia potencial) que seu avião tem. Pois caso esteja muito baixo e longe, o melhor a se fazer é fazer um pouso forçado no mato ou em algum lugar mais seguro, do que tentar trazê-lo até a pista e cair no meio do caminho.

            Uma situação também complicada é quando estamos sem motor, perto e muito alto. A energia terá que ser dissipada de alguma maneira, pois caso chegue muito rápido na pista, a chance de vará-la e lenhar também é grande. Para estes casos, desça em circuitos de 360º, tentando não ir muito longe da pista e já pensando no momento do pouso.


            Terceiro passo: nunca se esqueça do vento. Como foi dito no passo anterior, todo avião voa “por causa da velocidade”. E o vento influencia bastante nesse cálculo. Um pouso ideal é sempre de frente para o vento, e sem motor a regra não muda. Com vento de cauda, o arredondamento para o toque será dificultado, e a chance de estol neste momento é grande. Digo isso por experiência própria.


            Quarto passo: movimentos suaves sempre. Além de manter uma rampa descendente, use pouco comando (na maioria das vezes). Porque movimentos bruscos podem levar ao estol, e isso é tudo o que você não quer em um momento assim. Use o máximo possível de leme, e o mínimo possível de aileron, principalmente em baixas velocidades; pois o aileron manobra o avião por “diferença de sustentação nas asas”, e caso você esteja devagar e com a sustentação no limite, seu uso exagerado pode levar ao estol.


            Quinto passo: mantenha seu avião com o menor arrasto (e peso) sempre que possível, ou seja, trem de pouso e flap recolhidos. Quanto mais arrasto, menor a razão de planeio, e como você quer alcançar a mais distância possível apenas planando, grande arrasto não é uma boa opção. Baixe o trem e o flap apenas no momento em que for necessário, claro que se o seu trem de pouso demorar a baixar, ele deve ser acionado em um momento seguro, mesmo que isso signifique mais arrasto em voo.

            Sexto passo: o momento mais aguardado chegou: tocar o chão [ou mato, ou uma árvore]. Se todos os passos anteriores foram bem executados, esta será a etapa mais fácil e sem muitos danos. Um pouso sem motor ideal é aquele que se assemelha a um pouso convencional, ou seja, na pista, no ponto certo e na velocidade correta.

            Mas nem sempre é possível, e caso seu avião não chegue à pista e tenha trem de pouso retrátil, minha recomendação é: pouse de barriga; pois é mais fácil consertar um ralado ou trocar a hélice do que refazer todo o berço do trem e chapeamento da asa. Isso, claro, se o mato for alto, a grama muito ruim, ou se seu modelo não possuir muitos detalhes na barriga e asa. Portanto, pense bem se vale a pena ter rodas embaixo dele ou não.


            Os passos são basicamente esses, porém a qualidade e facilidade de execução dependem diretamente da sua habilidade como piloto e experiência com o avião em questão. Por isso, voe muito e sempre.


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            Ainda possui alguma dúvida sobre pouso sem motor ou procedimentos de emergência? Já passou por situações como essa? Deixe seu comentário aqui embaixo!



7 comentários:

  1. Fernando Paiva - BRA 18.88516 de agosto de 2016 às 21:22

    Ótimo texto sobre assunto importante para qualquer aviador, modelista ou não...

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    1. Com certeza Fernando, resguardando as devidas proporções, o aeromodelismo é como a aviação.

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  2. olá marcelo,
    favor comentar sobre o radio controle t8fg super futaba
    obrigado

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    1. Bom dia, esse rádio é bem superior ao T6J, pois é protocolo Fasst e pode funcionar até com 14 canais. Bem mais recomendado para o seu Yak, tenho quase certeza que com este não faltará programações avançadas para seu avião.

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  3. olá marcelo,
    obrigado pelo comentario, então esta decidido a compra do radio,
    abraços
    3N AERO

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  4. Ja tive esse problema algumas vezes, Com aeros treinadores nunca foi um problema, mas com meu edge 540 motor 52, ai ja é oitra estória, todas as vezes que o motor morreu em vôo o trem de pouso foi aerancado com danos à barriga do aero. Nesse ponto venho a descordar da parte quw fala sobre aproximar da pista com flap recolhido para gerar menos arrasto. O flap aumenta o arrasto mas também aumenta a sustentação, assim o aero voa mais lento
    Mas perde menos altitude. Depois que programei flaperon no meu edge, ele tem pousado como treinador. Ja perdi motor com ele depois disso, baixei o flaperon e fiz um pouso muito tranquilo. Não sei se isso vai funcionar bem para todo tipo de aero, mas não custa tentar. Abs

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    Respostas
    1. Maurício, aproximar sem flap não significa tocar sem flap. Na hora de tocar vale tudo para reduzir a velocidade do avião e consequentemente reduzir possíveis danos.

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