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Para voar basta CG e potência



            Com a chegada dos aeromodelos elétricos e o baixo custo dos equipamentos, a criatividade tomou conta e as pessoas “criaram” cada vez mais modelos inusitados: placas de sinalização de trânsito, super-heróis, animais, bruxas e tudo o que sua imaginação permitir começaram a cruzar os ares.  Com isso, surgiu uma frase que alguém já ouviu falar pelo menos uma vez: “Qualquer coisa voa, basta ter CG e potência”.



Micro modelos, um belo exemplo de potência bem aproveitada
            Em muitos casos, aquela frase vem acompanhada com uma risadinha, ou em forma de piada. Porém, é preciso ter cuidado, pois esconde uma ideia equivocada de que, para um avião voar, basta aqueles dois fatores. É obvio que, com CG no lugar correto e potência de sobra, até uma “privada” voa. Mas isso será que isso basta?

            Um colega de pista comprou um P-47 RTF de uma marca conhecida e lenhou no primeiro voo. Decidiu então utilizar a eletrônica em um treinador de 1m de asa. As pessoas disseram que iria voar, teria motor de sobra e eu, desempenhando minha função de chato, resolvi discordar: “não vai voar legal”.

            Um aeromodelo geralmente é projetado, envolve engenharia, cálculos e vários cuidados para que ele voe conforme o que foi previsto (leia mais sobre a competição SAE Aerodesign). Não é apenas CG e potência. Posso colocar um motor que puxa 1 kg em um aero de 500g e ele não voar tão bem quanto o mesmo motor em um avião de 1,2kg. Posso colocar o mesmo motor em um aero com o mesmo peso e ainda assim ter um voo deficiente. Mas por que?



Aviões do SAE AeroDesign conseguem levar até 12kg de carga útil com um motor glow .61

            Existem inúmeras variáveis em um aeromodelo, e isso não envolve apenas peso, envergadura e potência do motor. Você certamente já ouviu falar de velocidade de estol (velocidade mínima para voar), mas e o tal do pitch speed? Ao multiplicar o passo da hélice pelo RPM do motor, temos a “velocidade da hélice”, essa coisa de “pitch speed”. Percebe-se assim que, para o aeromodelo sair do chão, é preciso considerar a hélice, motor  e a velocidade de estol. Hipoteticamente, você poderia até colocar um mega motor, mas uma hélice inadequada não atingiria a velocidade necessária para o modelo voar.

            O perfil da asa também influencia diretamente o desempenho, assim como o passo da hélice e a carga alar. Uma asa com perfil Clark Y terá um desempenho bem diferente de uma com perfil NACA 2412, ainda que ambas possuam a mesma corda e envergadura.  O perfil da asa é uma das variáveis utilizadas não só para se encontrar a velocidade de estol de um modelo, mas também por suas características de voo. Se você já fez um voo de dorso com um perfil Clark Y (assimétrico) percebeu que o modelo tem que voar muito picado para manter o voo alinhado, diferente de uma asa com perfil simétrico. Ora, o perfil da asa é responsável exatamente pelas condições de sustentação do avião!

            Ainda sobre asa e motor, posso ter dois motores que aguentem puxar 1 kg mas variar nos “KVs”, ou seja, um destinado a velocidade, alta rotação, e o outro destinado a torque. Um biplano exige torque, não velocidade.  Já um pylon (aeromodelo de corrida) exige velocidade, muita velocidade, ou seja, um Kv enorme. Um biplano de 1kg não utiliza o mesmo motor que um monoplano de 1kg. Certamente você dirá: mas lógico, tem duas asas! Ok, se eu tenho um biplano da I guerra e um Ultimate (acrobático) com a mesma envergadura e peso, será o mesmo motor funciona para aos dois? Voar, talvez vai, mas não atingirão o seu desempenho máximo.

            O que pretendi mostrar neste artigo é que realmente, “Pra voar, basta cg e potência”. Contudo, acho que aeromodelismo é muito mais do que isso. Uma coisa é fazer algo voar, outra coisa é fazer algo atingir o máximo do seu desempenho. Obviamente que você pode voar um treinador elétrico pequeno com uma bateria de 4500mah. Isso não é errado, não há uma lei que negue às pessoas superdimensionar os componentes.  Aeromodelos não precisam ser super leves, pois então sofreriam com o vento, etc. Também não precisam ser pesados, já que exigiria mais dos seus componentes, reduzindo não só o tempo de voo e tendo um consumo desnecessário, mas também mudando suas características (por exemplo, voando mais rápido do que foi projetado, já que ficou “muito pesado”).


            Muitos daqueles modelos “exóticos” até voam, mas geralmente são instáveis e seu voo é restrito. Voar, qualquer coisa com CG e potencia voa, já voar como foi planejado e atingir sua eficiência, bem... ai, se você pensa que CG e potência basta, você não entende de aviões.



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            O que você pensa sobre CG e potência? Vamos debater o tema !


Escrito por Wagner de Barros

3 comentários:

  1. ja ouvi isso de um instrutor c aluno.. qualquer coisa c asa voa... enquanto estava voando minha zagi

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  2. Informações excelentes para o aeromodelismo, precisamos destas tecnologia para desenvolvermos os nossos projetos brasileiros, além da tecnologia não podemos esquecer de estudar e publicar assuntos sobre o Design pois a função leva a forma importante na estética de qualquer produto. Parabéns Wagner de Barros pelo seu trabalho.

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  3. Um erro muito comum é dizer que asa voadora e zagi são a mesma coisa. Não significa que por ser uma asa, que será zagi.

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